SALA DE LEITURA DA EAT

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Vê-se CS Lewis no Quadro Central, ladeado por seus livros, o Busto de MacDonald à direita e a "Vela do Saber" acesa.

domingo, 17 de julho de 2011

Uma estranha confiança na memória

A exigência de que uma adolescente decorasse um conjunto de regras para seguir sob risco de desastre aponta para uma estranha confiança de Deus na memória humana e o Espírito Santo [*].

Era uma viagem decisiva, pois precisava trazer de volta um príncipe perdido há anos em uma cidade subterrânea, governada por uma serpente disfarçada de uma belíssima mulher, daquelas cujos encantamentos seduzem a qualquer um, sobretudo um moço jovem e em busca de um grande amor, como mostravam muitos contos medievais e poemas shakespeareanos. Mas aqui foi CS Lewis quem nos apresentou este dado intrigante, e uma reflexão sobre a confiança de Deus na memória humana se torna imprescindível para entendimento da vontade do Criador.

Foi logo no início da narrativa (Capítulo 2, “A Missão de Gilda”), quando Aslam encontrou-se com “Jill” após uma atitude tola dela (correndo um risco enorme no alto de uma montanha gigante), e a menina recebeu a incumbência de ajudar a resgatar o príncipe, por meio de uma viagem às perigosas terras do Norte, lá onde moravam os gigantes malvados. Em razão da bobeira de Gilda, Aslam lhe incumbiu de “decorar” 4 (quatro) pontos de uma fórmula salvadora dos perigos da viagem, e a colocou na ventura e na aventura do Livro 5, junto com Eustáquio Chatoba e um terceiro personagem, o batráquio Paulama, que iria se unir ao grupo logo depois. Os 4 pontos eram os seguintes: (1º) logo que Eustáquio colocasse os pés em Nárnia, encontraria um velho e grande amigo para ser cumprimentado e receber dele uma grande ajuda; (2º): Deveriam viajar para longe de Nárnia, para o Norte, até à cidade dos gigantes; (3º): encontrariam uma inscrição numa pedra da cidade em ruínas, devendo proceder como ordenava a inscrição; (4º): reconheceriam facilmente o príncipe perdido, se se lembrarem que ele seria a 1ª pessoa em toda a viagem a pedir alguma coisa no nome de Aslam. Era isso.

Logo em seguida, Aslam disse coisas como: “Seu primeiro cuidado é lembrar-se de tudo. Repita para mim, pela ordem, os 4 sinais”. Como Gilda não se saiu muito bem, o Leão a corrigiu e fez com que repetisse outra vez, e mais outra, e mais outra, até que a menina decorasse tudo. Depois Aslam repetiu: “Antes de tudo, lembre-se dos sinais! Repita-os ao amanhecer, antes de dormir e, caso acordar, durante a noite. Por mais estranhos que sejam os acontecimentos, de maneira alguma deixe de obedecer aos sinais. [...] Os sinais que aprendeu aqui surgirão sob formas bem diferentes ao depará-los lá. É importantíssimo conhecê-los de cor e desconfiar das aparências. Lembre-se dos sinais, acredite nos sinais”.

O que tudo isso quer nos indicar? Isto significa que Deus CONFIA na nossa memória, por mais falha que ela seja, e por piores que sejam as circunstâncias a perturbá-la! Isto é uma coisa divina absolutamente inacreditável, espantosa e 100% incompreensível para nós, pois Deus sabe muito bem o quanto a nossa memória é falha e quantos desastres já causou! É o caso até de perguntar: quem de nós confia na memória alheia?... Todavia, há uma exceção, e cremos que é ela que determina a confiança de Deus em nós: é a ação do Espírito Santo, que Jesus disse ter sido enviado justamente PARA NOS FAZER LEMBRAR DE TUDO o quanto Ele nos ensinou! (João 14,26). Eis aí a pedra de toque: a memória humana é muito ruim, mas a ação do Espírito em nossa mente garante a ela uma alta capacidade de resgatar dados e nos preparar bem para o bom combate, onde a guerra é vencida pelos soldados que menos esquecerem sua obediência e afazeres.

Com isso vemos aqui outra preciosa lição de Deus passada dentro das Crônicas de Nárnia, pela instrumentalidade de CS Lewis, grande soldado de Aslam: que devemos SIM treinar nossa memória, mas este treinamento será nulo ou inútil se não estivermos dispostos a obedecer. A lição é: “Quem segue as ordens e lembra dos castigos, dificilmente esquecerá as obrigações”.

[*] = Clicando no título deste post, há um vídeo belíssimo sobre o Livro "A Cadeira de Prata".

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