Certamente o mais estranho e doentio fenômeno social de
nossos dias acontece da seguinte forma, em argumentação ligeira. Há alguns
séculos atrás (talvez há pouco mais de 60 anos), era raro encontrar uma pessoa
que, chegando de repente no meio de uma discussão – ou de uma exposição – de um
tema que até então não participava, entrasse no assunto já dando sua opinião ou
cantando de galo, ao invés de OUVIR primeiro para depois opinar. Ou seja,
parecia haver uma espécie de “espírito de atenção” (para não dizer “humildade
discipular”) com o qual o recém chegado se postava sem precipitação, entrando
quieto e ouvindo o que os presentes já estavam conversando antes de sua
chegada. E mais ainda, que o recém chegado parecia ter PRAZER DE OUVIR a
conversa, mesmo quando o assunto aparentemente não estava contido em seu
cardápio de preferências intelectuais ou culturais. A chegada em silêncio era
praxe e norma tácita tanto em ambientes escolares/acadêmicos, quanto em
conversas tratadas dentro das casas, quando as famílias estavam reunidas
trocando ideias. Enfim, aquele comportamento “silencioso” de audição atenciosa
praticamente ditava toda a Educação intrínseca das pessoas, alfabetizadas ou
não, e por isso havia muito mais ambientes tranqüilos para diálogos, quanto
situações de paz social, com o efeito de produzir toda uma atmosfera sadia para
o desenvolvimento psíquico e intelectual. Todavia alguma coisa mudou, e mudou
gravemente, para pior. E encontrar as causas da mudança é um tremendo desafio,
o que nos leva a aventar hipóteses sem estar livre de dúvidas pontuais. A
saber: (1) pensamos tratar-se da escalada inexorável da depravação mundial, a
qual, a partir da desobediência bíblica, leva cada alma a se achar “poderosa”,
com opinião igual ou superior aos outros, e por isso não necessitando ouvir
mais a ninguém acima de ninguém; (2) pensamos tratar-se de mero resultado da
ansiedade de uma era de desespero, na qual todas as almas se vêem
espiritualmente solitárias, sobretudo na satisfação de seus desejos pouco
castos, e por isso a ansiedade atiça o “centro da fala” e a pessoa chega já
acossada para falar e ser ouvida; e, por fim (3), pensamos tratar-se do
resultado de um longo tempo de exposição às seduções degenerativas da Mídia a
serviço do Comunismo, a qual gerou a ilusão de igualdade que garante a
inexistência de uma Lei Moral, e sem ela TODAS AS OPINIÕES individuais ganham
poder, e por isso todo mundo agora “se acha”, e se acha no direito de opinar
sobre qualquer assunto, mesmo um que ela desconheça ou do qual não estava
participando. Daí que a pessoa entra na sala e solta a sua opinião, muitas
vezes um total desatino ou em total descompasso com o tema, muitas vezes até
faltando com a verdade, e tão somente porque não soube ouvir e foi acostumado a
falar de assuntos que nunca estudou! Eis aí o quadro atual, 100% diferente de
épocas passadas, onde a cultura e o saber alheios eram respeitados, e onde as
pessoas realmente APRENDIAM nas conversas e com as conversas, como o próprio
Jesus também “aprendeu” conversando com os doutores. Fica aí a denúncia para
olharmos para dentro de nós.
segunda-feira, 10 de abril de 2017
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