“Amei um Deus que morreu por mim, mas eu nem sei o que isso
significa. O próprio dizer isso é perturbador e obscuro, e assim é fácil
entender porque seus próprios seguidores nunca O entendem, mesmo aqueles que
estiveram com Ele, em convívio diário e pedagógico. O tempo do verbo empregado
também parece absurdo, pois a mente humana está presa à sequência passado,
presente e futuro, e então tudo se perde numa linha reta. Quem vai entender que
ter amado uma vez é ter amado sempre, e quem respondeu três vezes por este amor
recebeu três missões, para três dimensões diferentes, cada uma cumprida por um
salvador de três pessoas?... Porquanto fui num tempo de outra velocidade,
auxiliado por uma mente mais veloz, cujas viagens iniciavam e terminavam antes
que eu pudesse entender de onde saí, e mesmo o que eu poderia fazer de diferente que diferenciasse a mesmice
que eu mesmo vivi... Mas toda a fumaça do lugar me era familiar ou familial,
porque convivia comigo em meu lar planetário de carne e osso e pedra. Por isso
senti que sair da Terra e descer ali não parecia viagem alguma, como de fato
não era viajar para o mesmo lugar, agora apenas podendo ver solidamente as
fumaças locais. Nunca soube se saí do planeta físico dos mapas geográficos, ou
se apenas ‘sofri’ – não sofri –
mudança na composição interior de minha própria fumaça, que garantiu sua
habitação no vazio. Então eu vi Ele descer também. Ele não morreu somente. Ele
nunca deixou de trabalhar.
Como recebeu de Deus todas as chaves – e até
repassou algumas – lá ia Ele penetrar em todas as salas, em
todas as casas, em todas as ruas, em todos os guetos, em todas as cidades de
todos os mundos. E eu poderia talvez apenas ver, se ainda quisesse ser inútil,
ou poderia fazer alguma coisa – se minha voz fosse audível – ou poderia fazer
melhor, se apenas O imitasse. Então decidi fazer os três: parar, falar e
imitar. Penso que talvez nunca consegui resgatar alguém naquela primeira
viagem, e não sabia se iria querer fazer outras. Afinal, é um hospital
psiquiátrico de sombras e nuvens negras, e em forma de nuvem não se pode
impedir ‘invasões’. Por isso somente os
sólidos descem seguros, depois de um tempo, dois tempos e metade de um
tempo. Parei na primeira curva, que fazia limite com um enorme declive. Ali eu
tinha uma perfeita sala de observação, e a missão de ver sobrepujou as outras
duas. Agora eu vi tudo: amei um Deus que
morreu por mim, e agora eu sei o que isso significa. O sacrifício da cruz
ganhou as nuvens, e só ganha seu significado maior quando cai como chuva e
desce aos mais estreitos esgotos de cada gueto individual. Ele entrou em cada esgoto escuro e de lá puxou vermes rebeldes, sujando
suas mãos puríssimas. Acomodou os vermes imundos na poltrona macia de seu
automóvel de luxo, e os levou até a ofuscante luz da santidade. Poucos foram
exitosos na experiência. Muitos decidiram ficar no carro. Muitos decidiram voltar à
escuridão. Porém Ele, com sua longanimidade eterna, só ficava perfeitamente
feliz com aqueles cujo êxito dependia da vontade de se santificar, apesar de já
autorizados a morar ali. Enfim, amei um Deus que morreu por mim, e que me
deixou ver o que foi a sua morte vicária, permitindo-me buscar a pureza necessária,
a inocência do Grande Jardim”. Após ler este testemunho poético, o leitor pode ler
ESTE
artigo e assistir ESTE
vídeo, e melhorar a sua visão da Missão de Cristo que “um dia foi”, mas com o
tempo do Verbo Eterno.
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