SALA DE LEITURA DA EAT

SALA DE LEITURA DA EAT
Vê-se CS Lewis no Quadro Central, ladeado por seus livros, o Busto de MacDonald à direita e a "Vela do Saber" acesa.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

POEMA DE NATAL PARA 25/DEZEMBRO/2009



UM LEÃO NA MANJEDOURA


Seguimos uma estranha luz
que apontava para onde ir,
e a chamamos “nave de Jesus”
por indicar a quem servir.

Ao chegarmos ao lugarejo,
fomos ao lugar onde o gado
comia feno e produzia queijo
e sem dúvida fedia um bocado.

Ao nos prostrarmos ao Menino,
levamos um susto medonho:
Estava ali um enorme felino
Igual ao que vi num sonho...

Era um grande Leão dourado
que a qualquer um assustaria.
Pior foi que o Bebê ali deitado
já não chorava, mas rugia...

Pois não era um Bebê comum,
e muito menos aquele Leão,
que também estava a louvar.

Ele cantava “Eu e o Pai somos um,
e uma lança passará meu coração,
mas em três dias vou ressuscitar!”.

A SEGUNDA VINDA COMO ADVENTO

Para a Igreja Católica Romana, estamos agora no período do Advento, e este é, para Roma, quase exclusivamente associado ao Natal, ou à primeira vinda de Jesus. Todavia o Advento também se refere à Segunda Vinda, chamada “parousia” ou simplesmente parusia, em termos teológicos (o saudoso poeta Costa Matos escreveu o mais belo poema acerca do Advento, o qual oferecemos após este texto).

O que nos espantou nestas últimas semanas, depois de um curso de catequese onde pudemos examinar o zelo eclesial romano, foi uma descoberta impressionante e digna de nota, digo, de nota baixa. Ela pode ser exposta pela seguinte sentença: “A Igreja Católica Romana congelou ou eliminou o seu discurso escatológico porque descobriu uma denúncia bíblica contra ela mesma”. Será verdade? Vejamos.

Para um clero proselitista e auto-eleito único sacerdócio divino na Terra, a Igreja também é elemento salvífico, porquanto tem o seu Sacramental como único canônico, como se Deus “esperasse” pelos padres de Roma para ter uma chance de se fazer “carne verdadeira comida e sangue verdadeira bebida” na mesa eucarística. Porém como a fé é sempre benigna (Rm 14,22-23), não entraremos no mérito da igreja como elemento salvífico, porquanto cremos que tal juízo cabe a Deus.

Entretanto esta noção de elemento salvífico levou a Igreja a acreditar que a 2a Vinda não é bem assim uma “parusia”, ou uma “mega-apoteose dantesca”, na qual a Humanidade (pelo menos numa geração próxima), em profunda agonia pelo caos total das vésperas do fim, iria poder ver com os próprios olhos a chegada da Comitiva de Jesus nos ares, iluminando toda a Terra e as nuvens com sua Glória e brilho inefáveis. Esta noção veio em razão da idéia de que, se a Igreja está salvando almas, se o próprio Cristo se dá por inteiro em cada Hóstia, e se o encontro com Cristo ocorre na verdade é num átimo após a morte, então concluíram o absurdo teológico de que “a parusia, como apoteose, a rigor, é desnecessária, e se Jesus demorar outros milhões de anos, as almas não sentirão nenhuma falta daquele momento apoteótico”. Isto até pode ser verdade em relação a se sentir falta da apoteose, sem dúvida, embora Lucas chame a parusia de nossa “redenção” (Lc 21.28). Mas não é este o ponto a refletir.

O que estamos dizendo é que o afastamento deliberado da proximidade da parusia para o futuro longínquo embute a estratégia proselitista de manter o Templo até às últimas conseqüências, evitando ter que responder à responsabilidade de mudar a metodologia em face do caos do fim, no qual a fé já não existe (Lc 18,8) e muito menos o amor (Mt 24,12), sem os quais não há como manter viva uma igreja nos moldes atuais da hierarquia romana.

E qual é o texto bíblico onde está a denúncia que a Igreja de Roma temeu e “congelou”? Encontra-se nos dois primeiros versículos do cap. 24 de Mateus, e pasmem, bem no início do chamado “Sermão Profético de Jesus”. Ali os apóstolos, ao entrar no Templo, ficaram fascinados pela suntuosidade daquelas construções magníficas e começaram a elogiar tais belezas para Jesus. O Mestre, sem pestanejar, e quase bruscamente, respondeu: “Vocês estão vendo estas belas construções? Pois eu vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada!”. O leitor sentiu a força da resposta de Jesus e até um certo ar de revolta embutida na irrupção do Mestre? E por que Jesus reagiu assim?...

Eis aí a razão exposta. Jesus antevia os últimos dias do mundo, naquela geração perversa e corrupta onde a fé e o amor já terão passado, e onde o Templo (as igrejas feitas por mãos humanas) não teria mais razão de existir, conquanto instrumento de um culto mixado ao pecado e evangelização infrutífera, que a figueira queimada por Jesus tão bem exemplifica. Eis aí porque a Igreja Romana não prega mais a parusia, pois viu que a profecia anti-templo se aplica direitinho a ela mesma, numa prova de que não é tão necessária como se julga ser. [É claro que há exceções, e alguns padres de fato pregaram a parusia, “pagando caro”, e o link (Aqui) mostra um raro exemplo de sacerdote que ousou reaproveitar uma luminosa inspiração do Rei Roberto Carlos].

Por tudo isso, se alguém quiser ouvir falar aquela velha e tão doce voz que diz “Cristo está voltando, prepara-te”, vai ter que ir a uma igreja protestante mais “atenta”, e talvez do tipo mais fanática, infelizmente. Ali, pelo menos neste mister, ainda se pode ouvir “o clarim que chama os crentes à batalha”.


..................................Prof. João Valente de Miranda.

SERMÃO DO PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO
(José Costa Matos)

Já existem sinais,
no céu e na Terra.
Só se salvarão os que escutarem,
na mudez da semente,
as canções da árvore
que ainda vai nascer...

Então, fica comigo.
É preciso que amanheçam todos os caminhos
que anoiteceram na tristeza dos homens irmãos.
E, juntos, nós dois já sabemos rezar
as cantigas que ainda estão madrugando
nos olhos de Deus.

Fica comigo.
O mar já entrou nas nossas vidas
e uniu os nossos dois países
no abraço das navegações
de enriquecimentos recíprocos.
E ninguém consegue
apagar o mar nas cartas geográficas!
O céu desceu sobre as nossas cabeças
e está cantando, muito mais forte,
a Dança de obediência das constelações.
E ninguém jamais matou uma estrela!

Fica comigo.
Quando quisermos,
o Cruzeiro do Sul caberá nas mãos das crianças,
para que todos os nascidos das tuas entranhas
sejam benditos e tenham luz e tenham perdão
nas palavras que disserem,
no jornadeio pregador dos apóstolos.
E ninguém deve calar a Palavra que é PEDRA
na construção do Sermão da Montanha!

Fica comigo.
Quando chegarem os ventos
que vêm do fundo dos séculos,
eles gritarão as perguntas
do que fomos e do que fizemos.

Nesse dia,
AI! DE QUEM NÃO DECIFROU
A INTENÇÃO SECRETA DOS
ENCONTROS HUMANOS!
POIS NINGUÉM JAMAIS
ENCONTROU ALGUÉM
POR ORDEM DO ACASO.

Eu já não te peço mais por mim.
É que pressinto o machado
pendente sobre a raiz da árvore.
Talvez eu já nem saiba mais ficar contigo.

Mas, fica.
Se não houver beleza para o deslumbramento
dos teus olhos;
se o sol não parar
sobre o Domingo de Ramos da tua alegria;
se, depois de todas as colheitas,
ainda ficares de mãos vazias...
Então, vai,
na brancura da tua paz.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

UMA VERDADEIRA ESCOLA DE APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO

UMA VERDADEIRA ESCOLA DE APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO
Como este articulista conheceu CS Lewis e como a Palavra de Deus explanada por ele enseja a Humanidade a dar um salto de qualidade espiritual nunca antes dado por nenhum outro hermeneuta bíblico.


O ano é 1965, dois anos após a morte de CS Lewis (22/11/63), maior autor cristão da história moderna. O pastor americano Burton DeWolfe Davis, fundador do Colégio Batista Santos Dumont, “A Escola da Vida” de Fortaleza-CE, faz a apresentação formal do escritor irlandês para os alunos recém-chegados ao colégio, dando uma palestra com base no livro “A Razão do Cristianismo” (no original em inglês “Mere Christianity”). E não parava por aí, dando exemplo de interesse literário a todo o corpo discente e docente da época, trazendo para uma Fortaleza ainda ingênua o bom costume americano/europeu de estudar com seriedade.

Como um verdadeiro pioneiro no Ceará, ele também havia fundado a Primeira Igreja Batista de Fortaleza no início da década de 50, e jamais perdeu a sua originalidade como pesquisador de temas profundos da teologia, como demonstrou anos depois no Salão Nobre do colégio por ele fundado. Ali, naquelas manhãs e tardes fagueiras, de saudades mil, Pr. Davis levou todas as turmas a travar contato com um tema até então pouco debatido, sobretudo em escolas protestantes. Era o tema da Ufologia, que ele não tinha medo de abordar, mesmo levando assuntos tão difíceis e aterradores (para crianças e adultos) como o drama das abduções.

Levava fitas K-7 com gravações de abduzidos, mostrava fotos de UFOs, livros insólitos e até a explanação bíblica de eventos ufológicos narrados pelos autores canônicos (coisa impensável na maioria das igrejas até hoje), até “proibidos”, num certo sentido. O grande pastor marcou cada aluno e professor com sua coragem, descontração e pureza de fé, com a qual agradou a Deus na sua paixão literária, onde CS Lewis ocupava o topo da sua lista de livros de cabeceira.

Contou sobre Lewis, também conhecido por “Jack”, coisas tão profundas e íntimas que muitas vezes chegamos a pensar que Davis era um biógrafo do irlandês, ou talvez fosse alguém que conhecera Jack pessoalmente, em suas idas ao Reino Unido. E sua admiração até então incomum por ele (que o leitor jamais a confunda com idolatria) tinha respaldo em sua própria vida, pois ele dizia que Lewis foi um dos responsáveis pela solidez de sua fé, a qual, sob certos aspectos, suplantou até a promovida pela Palavra de Deus (quem conhece bem Lewis não negará tal possibilidade).

Ao apresentar CS Lewis a este articulista, jamais deixou de referir-se a outros grandes nomes da literatura evangélica mundial, dentre eles Billy Graham, Dom Richardson, Tim Lahaye, A.W. Tozer, S. Kierkegaard, B. Pascal, David Wilkerson, J. I. Packer, T. S. Eliot, John Bunyan, Rick Warren, C. H. Spurgeon, Dwight L. Moody, John Milton, John Wesley, John Stott e tantos outros que a memória levou, mas pontuando sua admiração pela contribuição de cada um a uma visão bíblica menos “bitolada” aos credos particulares de suas denominações. Ensinou-me a ver em trechos como “examinai tudo e retende o que é bom” a licença bíblica para a pesquisa irrestrita das fontes do Sagrado, explicando que Paulo, Timóteo, Lucas, João e tantos outros santos eram estudiosos e exegetas, sem qualquer restrição de cunho eclesial.

Entretanto, nada se comparava às declarações bombásticas que fazia acerca de Lewis, o qual para ele podia perfeitamente ter recebido instruções do próprio Deus e por isso era um “porta-voz diferenciado”. Chegou mesmo a dizer que quando um crente lê toda aquela gente (as inúmeras obras evangélicas à venda nas livrarias) recebe deles no máximo “lições didáticas para reforçar a visão dada pelas igrejas a que pertencem os autores”, enquanto que quando alguém lê CS Lewis “está diante de uma verdadeira escola de aprofundamento teológico ou DENTRO dela, com o próprio Jesus a segurar o giz e a dar aulas no quadro negro”. Sendo então uma aula do próprio Deus, não haveria como atrelá-la compulsoriamente a um credo eclesial particular, mesmo que algumas denominações reivindiquem tal privilégio dogmaticamente. Ele dizia que nem Lutero, nem Roma, nem a Rainha da Inglaterra nem ninguém recebeu de Deus Revelação capaz de outorgar o privilégio da exclusividade hermenêutica da Bíblia, e em CS Lewis essa liberdade de consciência ficava patente e soberana.

Este articulista teve, isso sim, o privilégio de ter tido o pastor Davis como mestre e diretor de uma escola como a de Paulo, educado aos pés de Gamaliel, e ainda mais honrado por ter sido por ele apresentado a CS Lewis, sem qualquer ingerência clerical ou influência denominacional, nem mesmo da própria igreja dele, a Batista Tradicional. Hoje só guardo as melhores lembranças da época, as quais vêm reforçar os ensinamentos de Lewis no exemplo de vida do Pr. Davis, que 'conheceu' Lewis ainda vivo e talvez “ao vivo”, coisa com a qual eu, infelizmente, não fui agraciado. Porém como o próprio Jack faria (tirar o corpo fora para que Jesus ficasse em evidência), graça especial foi ter conhecido Lewis, de quem eu posso dizer: o que seria de minha fé sem ele?...


Prof. João Valente de Miranda.