SALA DE LEITURA DA EAT

SALA DE LEITURA DA EAT
Vê-se CS Lewis no Quadro Central, ladeado por seus livros, o Busto de MacDonald à direita e a "Vela do Saber" acesa.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Como seria o discurso de Paulo no Areópago?

Tentando remontar a pregação precipitada do apóstolo Paulo, uma revisão do incidente no Areópago poderia apresentar um rumo inteiramente diferente para a igreja primitiva e até para nossos dias.
A Bíblia conta, em seu Novo Testamento, um estranho incidente “diplomático” entre um apóstolo de Jesus (Paulo de Tarso) e uma audiência de doutores e filósofos gregos, em pleno Areópago por onde tanta filosofia passou. O que planejamos aqui é apresentar o discurso e uma reconstrução dele, à base de uma nova revisão teológica, fundamentada sobretudo em leituras de autores como CS Lewis, John Stott, JB Phillips, GK Chesterton, Paul Yancey e outros.

A circunstância referida conta que, num determinado dia dos primórdios da igreja primitiva, quando Paulo vinha desenvolvendo um raciocínio muito proveitoso de aproximação de sua audiência em direção à Boa Nova de Cristo, um estranho erro de método pedagógico teria feito o grande apóstolo perder aquelas almas cultas, num incidente típico de precipitação ou de pressão externa à mensagem, o qual poderia ter sido evitado.

Foi um momento especial de rara oportunidade perdida, porquanto aqueles a quem Paulo pregaria, além de cultos, estavam mesmo interessados em saber DO QUE SE TRATAVA aquela nova “filosofia”, da qual eles tinham ouvido o galo cantar sem saber aonde. Quando alguém está interessado em saber o que pensamos, as portas se abrem mais, mas também não permitem necessariamente maiores incursões nas “intimidades psicológicas” dos ouvintes, por parecerem invasões indevidas ou abusos no direito de ensinar. Paulo devia saber tudo isso, porque, afinal, já ensinava antes, e aprendera seu ofício magisterial pela mão de mestres, dentre eles Gamaliel, grande mestre judeu doutor-da-lei (At 22,3). Como aqueles filósofos eram politeístas (toda a Grécia era e ainda é), era natural que quisessem saber acerca de “um novo deus no mercado”, ou da estranheza do 'deus-diferente' pregado por Paulo. O simples fato de ser uma novidade teológica lhes era atraente, bem ao contrário de nossos dias, nos quais há tanta religião e tanta teologia que ninguém mais tolera “novidades”.

Antes de transcrevermos a pregação no Areópago, é indispensável que se entenda que o tal discurso paulino, longe de qualquer demérito para São Lucas (autor que o descreveu), pode não ter sido exatamente como Lucas o registrou, até porque era impossível, depois de várias décadas de distância dos fatos, o grande médico do Senhor se lembrar de tudo nas minúcias; e assim o que deve ter marcado a sua lembrança pode ter sido justamente “o erro infeliz” de Paulo, dada a repercussão muito mais espalhafatosa de um erro do que de um êxito nos meios populares. Logo, que houve um erro, houve; agora as circunstâncias e as palavras pré e pós-pregação podem ter sido bem outras.

Vejamos então como foi o discurso de Paulo e logo em seguida, o mesmo discurso com os “reparos” possíveis pela teologia contemporizada. (Veja o Discurso na íntegra clicando no título deste post).
Agora vamos ao discurso que Paulo DEVERIA ter feito, o qual será obviamente um pouco maior (lembre: não havia pressa na audiência que o convidou) e só será consertado aonde de fato Paulo precipitou-se ou errou na abordagem: ou seja, nos demais trechos, mantém-se a pregação tal qual registrada por Lucas.

[ABRE ASPAS] – Atos 17,22-31: “Prezados atenienses: vejo grande inteligência em vocês por se interessarem em coisas estranhas e deuses das tradições de seus pais; inclusive, ao passar por vossa cidade, vi seus santuários e suas homenagens a vários deuses, todos merecedores das mais acuradas pesquisas investigativas, dada a quantidade de informações que podem advir de suas vidas e missões terrenas. Um desses deuses, com efeito, está sendo chamado de “Deus desconhecido”, por pura sapiência vossa, porquanto se há um Deus verdadeiro, ele deve ter mesmo muito mais coisas ocultas do que expostas, e assim o seu apelido cai bem num santuário de deuses. Pois bem. Proponho-lhes discutirmos este Deus desconhecido, pois tenho a forte impressão de que Ele teve algum tipo de contato comigo. Pois bem. Para mim, esse Deus-desconhecido é o Criador de tudo, “um Zeus”, por assim dizer. Este Deus não se limita ao espaço e ao tempo dos homens, não podendo ser contido por nossas habitações e nem por nossa arte, por mais bela e bem feita que seja. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; e de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação. Este Deus-desconhecido, uma vez tendo contatado alguns dentre nós (só eu conheço no mínimo uns 12 que com Ele estiveram), prova que pode ser mais presente e menos distante, ao contrário de outros deuses que quase se comportam como figuras emolduradas em quadros ou presas em estátuas! Isto Ele faz deixando claro que não está longe de nenhum de nós, pelo contrário, pode, a partir de nosso coração/inteligência, ser contatado, e expressar-se de modo mais interativo e pessoal; porque também nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens, embora, destes mesmos materiais, aproveite da sua humildade para transparecer até nós, do contrário, nós nem sequer O perceberíamos! É por isso que grandes mestres do passado diziam que “Deus está presente em tudo, inclusive na menor flor do campo”, embora num modo diferente de estar, sem jamais fundir-se com qualquer de suas criaturas. É apenas o seu ESTILO de Criador que transparece na matéria inanimada, ao contrário de nós animados, que podemos de fato SENTIR sua presença em nosso coração. Ao sentirmos Sua magna presença, então, o mínimo que devemos fazer é sermos humildes e até nos arrependermos de nossos erros, sobretudo quando tais erros são violências contra nossos semelhantes, as quais revoltam todo mundo pela injustiça aparentemente impune! Porém Deus não leva em conta nossas descrenças e fará justiça perfeita, no dia que determinou para julgar o mundo, salvando os bons e ou maus que se arrependerem honestamente. Para tanto, encomendou um homem especial para promover a Justiça divina, um homem justo em quem nunca se achou dolo algum, e cujo exemplo é o indicado para consertar todos nós. Afirmo, por experiência pessoal, que Jesus, chamado Nazareno, é esse homem justo que salva a todos nós por meio de nossa confiança nEle. Isto é tudo.” [FECHA ASPAS].

A seguir, veja na tabela abaixo os dois discursos, comparativamente, entendendo melhor o que há de diferente entre eles, em termos de técnicas de abordagem:
(Esta TABELA pode ser visualizada em tamanho grande no SITE da EAT, na aba ARTIGOS)

Isto posto, fica claro o indisfarçável erro de São Paulo, obviamente sem dolo algum, mas apenas resultante de uma precipitação das circunstâncias, que poderiam estar à beira de uma convulsão social, de uma perseguição religiosa, de uma fuga inesperada ou até de um martírio, como era comum na época. O discurso no Areópago, portanto, não foi uma coisa planejada, premeditada, na qual o orador pudesse ter o tempo adequado de preparação lecional, e deve ter pegado Paulo de surpresa, o que se explica pelo convite a ele feito, com ares de uma missão “obrigatória” para o Reino de Deus.

Finalmente, fica para todos nós pregadores a lição de não se permitir pregações precipitadas, sem tempo de treinamento anterior, de tal modo que sejam pré-testados todos os meios da preleção, e não apenas o conhecimento em si, atividade-fim da missão cristã. Se um aprendizado deste quilate pode-se tirar das Escrituras Sagradas, servindo até para os próprios apóstolos do Senhor (e com o mais preparado deles, segundo São Pedro – II Pe 3,15-16), quanto mais não deverá ocorrer conosco, ínfimos testemunhas de uma verdade imortal, mas moribunda pela fraquíssima fé do homem pós-moderno (Lc 18,8). Oremos para que nos mantenhamos firmes na crença que unia todos os apóstolos num só propósito, fazendo acender a chama da fé cristã, onde quer que nos peçam razão da esperança que há em nós.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Do passado espiritual ao mundo vazio de nossos dias

Nunca comungamos cem por cento com as posições políticas de Frei Betto, e encontramos razões de força maior para fazê-lo. Acontecia ao contrário do que sentíamos em relação ao Frei Leonardo Boff, cujas idéias ecológicas estavam muito mais identificadas com o que pensávamos, sobretudo na época de Seminarista, quando tivemos mais proximidade com os movimentos da Teologia da Libertação. Todavia e contudo, não podemos mais negar ou relativizar a importância da palavra e da consciência de Frei Betto nesta hora de globalização da imoralidade, onde a ética não tem mais valor a não ser na demagogia dos políticos corruptos. Com efeito, isto afirmamos com a segurança de nos apoiar numa recente palavra de Frei Betto, cujo argumento acerca das mazelas de nosso tempo aflorou de modo brilhante, para não dizer perfeito. O citado Frei, iluminado por suas leituras de filósofos como Platão e Sócrates (este, principalmente), postou em seu SITE a sua análise socrática dos tempos atuais, de um modo espetacular e digno de um edital lewisiano ou de um mural em praça pública. O Frei simplesmente disse tudo! Calou a cala a qualquer opositor modernóide, seja ele ateu ou crente. Assim ficamos, nós da EAT, pasmos, no bom sentido, e passamos, a partir de agora, a colocar Frei Betto num lugar entre aqueles que ilustram nosso pensamento e formam a nossa biblioteca particular. Clicando no título deste post, o leitor lerá o tão inspirado artigo no próprio ambiente virtual do Frei.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Uma data muito especial para nós

Hoje, há exatos 46 anos, no dia 10 de dezembro de 1965, o diretor de comunicação desta Escola travava seu primeiro contato com nosso mestre CS Lewis, ficando para sempre mudadas a sua vida e consciência, e ganhando motivos para louvar a agradecer a Deus desde então. O menino João, que nasceu em lar ateu, já se sentia desamparado e até desviado dos caminhos de Deus, ou perdido em suas angústias de pré-adolescência, quando Deus o aproximou de CS Lewis (numa história já bem conhecida desta Escola e de seus alunos), apresentando-lhe o capítulo VIII do livro “O Comportamento Cristão”, um dos capítulos do Livro “A RAZÃO DO CRISTIANISMO” (Mere Christianity), Ed. Luterana, 1964, chamado "O Grande Pecado". JV ainda hoje não sabe se já acreditava em Jesus naquela época, mas obteve certeza absoluta da participação decisiva de Lewis na sua conversão, sendo assim como o seu pai-na-fé, como Marilene Munguba foi sua mãe-na-fé em 1975, filha do pastor Samuel Munguba, da Comunidade do Amor, ex-Igreja Batista de Porongabussu. Grande participação também teve no processo o missionário de ascendência judia chamado Learthe Pereira Lira, nunca mais por nós visto, o qual pode ser chamado assim como “um tio na fé”, formando o que Paulo chamou de "família da fé" (Gl 6,10). Como vemos, é uma data muito especial para agradecer com toda a alegria do PRIMEIRO AMOR (Ap 2,4), que jamais deve ser apagado de nós. Parabéns pelos 46 anos de “convertido” do nosso professor. No título deste post está o texto que aproximou JV de Lewis.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Por que Lewis demonstrou certa admiração pelo Adventismo?

Quem leu o livro “Cartas a uma senhora americana”, viu que Lewis mostrou-se de certa forma admirador dos adventistas, mas sem demonstrar saber a fundo EM QUÊ o Adventismo crê. Lewis não entendia muito bem o conjunto das crenças deles, e pode não ter tido acesso aos documentos mais particulares da igreja onde está o Credo Oficial e sua visão das Escrituras. Todavia, lendo o texto que pode ser visto clicando-se no título deste post, os irmãos podem ver claramente que os próprios adventistas são confusos entre a fé dos fundadores do “movimento” (os “pioneiros” do tempo de Ellen White) e as chamadas “crenças do moderno Adventismo”, que Lewis pode ter lido e tirado uma conclusão positiva acerca deles. Todavia, nós cristãos, digamos assim, “dominicais”, precisamos ficar atentos e comungar da fé anglicana de Lewis, e não de algum grupo que possua alguma virtude elogiada por Lewis, que não podia, obviamente, CONHECER TUDO DE TODOS OS GRUPOS!. Como Jack mesmo disse, TODAS as religiões têm aspectos positivos e válidos, e a maioria comunga das idéias fraternais dos mandamentos judaico-cristãos, unindo todas as almas na excelência do amor ao próximo (que é de fato o que interessa). De qualquer modo, a rejeição da Doutrina da Trindade parece ser ponto relevante no corpo doutrinal oficial do Adventismo (fazendo parte da crença da maioria e do livro-base de Ellen White), e por isso devemos ter todo o cuidado quando conversarmos com eles, não apenas para não deixar faltar a mansidão e a ternura nos nossos relacionamentos com todos, mas para sabermos aproveitar as oportunidades para, se possível, indicar a leitura de CS Lewis (por exemplo, do livro “Cristianismo Puro e Simples”). Finalmente, há um site muito interessante a esclarecer esta questão, e os irmãos podem procurar no Google, bastando para isso digitar “CACP - Ministério Apologético”. É uma excelente pedida.