A expressão de CS
Lewis capaz de explicar a extrema popularidade das atuais denominações cristãs
é um convite à reflexão filosófica e uma bofetada no pensamento simplório da
maioria dos crentes.
Alguém já
parou para se perguntar por que as igrejas pós-modernas têm uma tão alastrada
popularidade? Alguém já procurou fazer o teste da pregação difícil e descobriu
o quão distante o Zé-povão quer ficar desta mensagem? Não é à-toa que Lewis
disse aquela sua frase-bomba nos seguintes termos: “Não
podemos competir com quem inventa uma religião simples”! Se o objetivo era
apenas oferecer uma farofa dura e com caroços grandes, sem gosto de nada e sem
sal, e se o Zé-povão não tem bom gosto ou gosta de porcarias, então, por óbvio,
uma igreja que propicie isto sempre estará superlotada, e assim a verdade
jamais chegará ao povo. Ou então, a verdade será sempre filtrada ao máximo,
oferecendo-se apenas a parte “agradável” ou ilusória dela, como satanás fez com
Eva. Deste jeito, não há como a verdadeira “eclesia” de Deus triunfar na
Terra, já que Cristo a fundou justamente para colocar o povão diante da verdade
completa, a saber, o “imbróglio labiríntico de sua perdição”, sempre ocultado
nas pregações populistas. O caminho do sucesso na criação de uma nova igreja
seria traçado assim: “procure tirar do Evangelho aqueles trechos que dizem
coisas como 'bem-aventurados os que não viram e creram'; ou aquele que diz
'porque a salvação é um dom gratuito de Deus'; ou aquele que diz 'crê no
Senhor Jesus e serás salvo'; e por último, ofereça-se a encorajadora declaração
de Jesus na cruz: 'hoje mesmo estarás comigo no Paraíso' e pronto: seu sucesso
está garantido”. Ora: quem não quer uma religião que diz que a mensagem de Deus
é simples e que o plano de salvação é de graça, sem exigir absolutamente NADA
de seus 'usuários'? Qual analfabeto ou ocioso quer ouvir outra coisa além
disso? Quem não se deleita numa proposta de descanso? Eis porque Lewis disse
que ninguém pode “competir com quem inventa uma religião simples”! A maior
vítima desta enrolação humana é a Verdade, para não dizer o próprio Cristo, e
será preciso apenas olhar a vida dEle e ver que Suas explicações para a
salvação não eram tão simples como essas pregações pós-modernas. Basta ler o
que Ele explicou sobre o Juízo Final em Mt 25,31-46 e o que Ele respondeu ao
jovem rico quando este LHE perguntou sobre o que precisava fazer para herdar a
vida eterna (Mt 19,16-21). E talvez nem seja preciso ler, na carta de Tiago, o
versículo que diz que a fé precisa das
obras para salvar (Tg 2,24).Isto posto, bastaria este verso para embaralhar o meio de campo e complicar tudo, pois se os protestantes erram por dar teor salvífico apenas à fé, também muitos católicos ficam inchados de orgulho por apresentar boas obras a Deus como mérito pessoal, quando todos os méritos de nossas obras pertencem a Deus, e não a nós (Ef 2,10). Logo, é a figura da tesoura de CS Lewis que explica tudo: uma das lâminas é a fé, e a outra é a obra: se uma das lâminas é retirada, a tesoura não serve mais para nada. Tornou-se 100% inútil, ou “morta”.
“A imensa maioria das idéias que são
disseminadas como novidades hoje em dia são as que os verdadeiros teólogos
testaram vários séculos atrás e rejeitaram. Acreditar na religião popular
moderna é a mesma coisa que acreditar que a Terra é plana — um retrocesso” (Citação
de Lewis, no Livro “Mere Christianity”, Livro IV – Além da Personalidade ou Os
Primeiros Passos na Doutrina da Trindade – Cap. Fazer e Gerar, parág. 5).
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