Assistindo ao filme “O Doador de Memórias”
(2014) por indicação de uma irmã, tive a grata surpresa de ver que, apesar da
longa estiagem de boas produções da atualidade, ainda é possível ver um bom
filme. E qual não foi meu literal encanto, quando percebi que o longa, não tão
longo (1h e 37min), embora inserido no velho
clichê de uma sociedade isolada por leis severas após um holocausto qualquer,
vem tocar diretamente naquela parte mais
profunda da Teologia, a saber, aquela que discute se o mundo deveria ter
sido criado com o “Livre-arbítrio das emoções espontâneas”, ou se deveria ter
sido inventado com aquele modo tão incoerente denunciado por CS Lewis, ou seja,
um mundo livre onde a própria liberdade tivesse a censura
prévia contra a maldade. O argumento, bem debatido entre as principais
personagens, leva o telespectador primeiro a uma visão do “mundo perfeito”, sem
guerras, violências, inseguranças ou ódios, com sua razão válida pelo fato de o
planeta ter passado por uma crise tão medonha de sofrimento – advindo da
violência generalizada das massas nas ruas e dos conflitos entre nações – que
se sentiu motivado a aceitar tal mundo frio e insípido, curtindo uma era de paz
pétrea e sem sustos. Naquele mundo, entretanto, havia sempre um homem (o sr.
The Giver, “o Doador de Memórias”, interpretado pelo grande Jeff
Bridges), responsável por guardar o
arquivo vivo do mundo anterior, e por passar tais memórias ao seu sucessor,
então o jovem Jonas, interpretado por Brenton
Thwaites. Após a sua primeira sessão, a memória do velho mundo já o
começa a tocar fundo, até ao ponto de ele sentir alguma atração pela bela Fiona, interpretada pela linda atriz Odeya Rush; e em razão
da ocorrência deste 'tão proibido e estranho fenômeno' da paixão, segue
sua vontade de viver um mundo diferente do seu, no qual até as cores eram
proibidas e tudo era “pintado” de preto e branco (aqui houve uma grande sacada
do diretor Phillip Noyce: foram os belíssimos
olhos azuis da moça que primeiro levaram Jonas a imaginar um mundo colorido, e
com isto avivar uma memória que nunca viveu, até ao ponto de fugir de todo o
sistema para alcançar, após a última fronteira imposta, as cenas de Natal que
viu em suas sessões de recebimento de memórias com o
Doador Giver). Perseguido pela “polícia-pacificadora” – ironia das
ironias! – do sistema governado pela 'anciã' Chief
Elder, interpretada pela premiada atriz Meryl
Streep , o jovem Jonas chega ao
Natal gelado junto com sua amada, dando início ou reinício ao mundo que Deus
julgou melhor ou único que valia a pena criar. Deste modo, o filme age
como advogado da tese divina, mostrando à Humanidade que, apesar de toda a
violência que reina em nosso mundo, o planeta seria um inferno pior sem as
emoções, que deixariam um vazio impreenchível na alma humana, em cujo âmago
Deus colocou a saudade da Eternidade (Eclesiastes 3,11). Grande dica: não
percam este filme.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
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